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Anvisa aprova primeiro e único tratamento para doença rara que ataca o baço ou fígado

Fachada do edifício sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Anvisa aprovou o Xenpozyme (alfaolipudase), medicamento para a reposição enzimática para o tratamento de manifestações não relacionadas ao sistema nervoso central (SNC) de deficiência de esfingomielinase ácida (Acid Sphingomyelinase Deficiency, ASMD) em pacientes pediátricos e adultos com tipo A/B ou tipo B.

Xenpozyme é a primeira terapia indicada especificamente para o tratamento dessa doença extremamente rara sendo atualmente o único tratamento aprovado. Estima-se que 1 em cada 250.000 indivíduos desenvolvam a doença, que pode ser mais frequente em alguns grupos específicos. Não há números oficiais da patologia no Brasil, sendo que a falta de informação e conhecimento da doença dificultam o diagnóstico. Felizmente, os pacientes agora podem contar com um tratamento específico, que se soma às medidas gerais de controle de sintomas.

A ASMD, historicamente conhecida como doença de Niemann-Pick tipos A, A/B e B, é uma doença genética progressiva com morbidade e mortalidade significativas, especialmente entre lactentes e crianças, sendo que muitos pacientes pediátricos não sobrevivem até a idade adulta. Os sinais e sintomas podem aparecer na infância ou mais tarde e podem incluir aumento do baço e do fígado, problemas respiratórios, infecções pulmonares, hematomas ou sangramentos incomuns, entre outras manifestações. Até agora, o tratamento da ASMD incluía cuidados de suporte para abordar o impacto dos sintomas individuais e monitoramento cuidadoso para detectar possíveis complicações da doença.

“A ASMD é uma doença genética grave, progressiva e potencialmente fatal que afeta crianças e adultos em todo o mundo. Sem um medicamento específico, os recursos eram bastante limitados para lidar com a patologia, e o tratamento se resumia a amenizar os sintomas. Agora, finalmente teremos uma terapia que trata de fato a doença e atua no combate a essa condição que pode ser devastadora, gerando um grande impacto na qualidade de vida dos indivíduos com ASMD e de seus familiares”, avalia Roberto Giugliani, professor titular do Departamento de Genética da UFRGS, membro do Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Head de Doenças Raras da DASA Genômica e co-fundador da Casa dos Raros

Nos EUA, Xenpozyme® recebeu a designação de Terapia Inovadora, que acelera o desenvolvimento e a revisão de medicamentos destinados a tratar doenças e condições graves ou com risco de vida. A FDA avaliou o Xenpozyme sob a Revisão Prioritária, que é reservada para medicamentos que representam melhorias potencialmente significativas na eficácia ou segurança no tratamento de doenças graves e aprovou seu uso nos Estados Unidos em setembro de 2022. Em junho de 2022, a Comissão Europeia (CE) aprovou o Xenpozyme® para uso na Europa.

Os ensaios clínicos mostraram que Xenpozyme® melhorou a função pulmonar e reduziu os volumes do baço e do fígado em adultos e crianças
O estudo ASCEND avaliou a eficácia e segurança do Xenpozyme®; 36 pacientes adultos com ASMD tipo A/B ou tipo B foram randomizados para receber Xenpozyme ou placebo por 52 semanas (análise primária). No estudo, os doentes tratados com Xenpozyme apresentaram uma melhora na função pulmonar de 19% (p=0,0004) em relação ao braço placebo, enquanto o volume do baço foi reduzido em 40% (p<0,0001) e o do fígado em 28% (p<0,0001) com o novo tratamento. Além disso, foi observado um aumento de 17% no número de plaquetas dos pacientes que foram tratados com Xenpozyme®.

Todos os pacientes ASCEND tratados com Xenpozyme apresentaram melhora nos principais desfechos (função pulmonar, volume do baço e do fígado) e as reações adversas medicamentosas mais frequentemente notificadas em adultos (incidência ≥10%) foram cefaleias, tosse, diarreia, hipotensão e hiperemia ocular.

O estudo ASCEND-Peds de braço único, estudou 20 pacientes pediátricos com menos de 18 anos de idade com ASMD tipo A/B ou tipo B que receberam Xenpozyme®, com o objetivo principal de avaliar a segurança e tolerabilidade de Xenpozyme® por 64 semanas. Todos os pacientes completaram o estudo e continuaram a receber o medicamento em um estudo de extensão. O estudo ASCEND-Peds também explorou os desfechos de eficácia na doença pulmonar progressiva, aumento do baço e do fígado e contagem de plaquetas. Após um ano de tratamento (52 semanas), houve melhorias na alteração percentual média em % prevista dos volumes de DLco, baço e fígado, contagem de plaquetas e progressão linear do crescimento (medida pelas pontuações Z de Altura) em comparação com o momento basal.

• Houve melhora de 33% (p=0,0053) na função pulmonar (DLco) quando comparada ao momento basal na Semana 52.

• Apresentou 49% de redução média no volume do baço (p<0,0001) desde o início até a Semana 52.

• Houve redução do volume médio do fígado de 40% (p<0,0001) desde o início até a Semana 52.

• Melhora média na contagem de plaquetas de 34% (p=0,0003) desde o início até à Semana 52.

• Olipudase foi geralmente bem tolerada em todas as faixas etárias. A maioria das reações adversas foram leves ou moderadas. Cinco pacientes tiveram um total de 12 episódios de reações graves. Nenhum paciente descontinuou permanentemente o tratamento ou se retirou do estudo. As reações adversas graves relacionadas ao tratamento, como reações de hipersensibilidade incluindo anafilaxia, ocorreram dentro de 24 horas após a infusão.

• As reações adversas medicamentosas mais frequentemente notificadas em doentes pediátricos (incidência ≥20%) foram pirexia, tosse, diarreia, rinite, dor abdominal, vómitos, cefaleias, urticária, náuseas, erupção cutânea, artralgia, prurido, fadiga e faringite.

Uma inovação científica para pacientes que vivem com ASMD

Xenpozyme®, uma terapia de reposição enzimática específica da esfingomielina lisossomal hidrolítica, é projetado para substituir a esfingomielinase ácida deficiente ou defeituosa (ASM), uma enzima que permite a quebra da esfingomielina lipídica. Em indivíduos com ASMD, a deficiência na enzima ASM leva ao acúmulo de esfingomielina em vários tecidos. Não se espera que Xenpozyme® atravesse a barreira hematoencefálica ou modifique as manifestações de ASMD no SNC. Xenpozyme® não foi estudado em pacientes com ASMD tipo A.

Xenpozyme® é administrado por via intravenosa a cada duas semanas, e sua administração requer uma fase de escalonamento de dose, seguida de uma fase de manutenção.

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