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Artigo de João Scarpanti: ‘7 de setembro: independência ou bolsonarismo’

Foto: Marcos Corrêa/PR

O dia 7 de setembro do ano de 2021 foi uma data de extrema importância, que possibilitou uma análise clara do nosso caótico cenário político brasileiro. O dia em que é comemorada a Independência do Brasil foi marcado por diversas manifestações de diferentes grupos políticos e em diferentes formatos, dentre eles, os atos a favor do presidente Jair Messias Bolsonaro, que foram quantitativamente superiores e com reivindicações a favor da intervenção militar, contra a divisão dos três poderes e consequentemente em defesa do processo de degradação das condições de trabalho e sobrevivência das massas operárias, camponesas e indígenas.

Em contrapartida, a oposição ao atual governo também organizou suas manifestações: com a carga de todo um ano de lutas políticas nas ruas, o campo do movimento Fora Bolsonaro e afins, majoritariamente composto pela esquerda, mais uma vez se pôs a ocupar as ruas e apresentar a força do povo que combate a destruição de sua dignidade. Posto isto, nasce a dúvida: como pode a população compor as manifestações a favor daquele que a quer sofrendo, sendo este Jair Messias Bolsonaro?

A Frente Socialista de Franca e Região busca oferecer uma resposta para este questionamento: o fato é que as movimentações em favor do presidente são, em sua maioria, movimentações de patrões. Movimentações pesadamente financiadas pelo setor privado, pagando o transporte, a alimentação e o material usado pelos manifestantes.

Vale notar que, além do dinheiro investido e pago individualmente a diversos dos manifestantes que se apresentaram em atos no dia 7, a escolha de fazer poucos atos e atos concentrando manifestantes de todo o país em locais estrategicamente escolhidos contribui com o peso numérico da manifestação. E, ainda assim, os apoiadores do presidente que imaginaram que o campo da esquerda se fragilizaria, foram surpreendidos pelas manifestações da esquerda, que foram, mais uma vez, gigantescas, capazes de, em proporção, fazer frente com as manifestações dos apoiadores do governo. Se por um lado temos protestos construídos ao longo de todo o ano de forma orgânica, do outro temos a compra de apoio em manifestações pontuais e encomendadas.

O dia 7 de setembro também foi um dia de confusão teórica por parte dos apoiadores do governo. Manifestantes que prestaram apoio ao presidente com cartazes pedindo por “intervenção militar a favor da democracia”, “mais justiça e menos STF” e outros cartazes contraditórios e sem fundamento lógico. O que vemos é uma clara manifestação da pura ideologia.

O povo – que depende da democracia para se manifestar e do STF para manter seus direitos democráticos – pedir o fim de tais instituições é uma clara inversão de valores que a classe dominante impõe ao mesmo. É um povo que vê a realidade com um óculos que inverte a realidade, com uma visão que só beneficia aqueles que dominam a sociedade.

Bem gostariam os grandes patrões de retornar a ditadura, onde a corrupção e as negociatas em troca de privilégios corriam soltas e o povo era reprimido. Bem gostariam os grandes patrões que o povo perdesse de vez seus direitos políticos e trabalhistas, que setores inteiros de operários fossem impedidos de fazer greves e de se manifestar em busca da justa manutenção de seus direitos. A alienação se torna tamanha que o povo acredita que o problema está em sua própria defesa. Ninguém se interessa tanto pela ditadura, pela repressão, pela cassação de direitos quanto a burguesia.

Desta forma, a Frente Socialista de Franca e Região, composta por Coletivo da Cultura, Associação dos Trabalhadores de Franca – ATRAF, Instituto Práxis de Educação e Cultura – IPRA, JUNTOS!, Oposição Sindical dos Servidores – OSS, Partido Comunista Brasileiro, Unidade Classista – Comitê de Base de Franca e Região e demais forças independentes se posicionam radicalmente contra o avanço dos ataques da burguesia contra o Estado Democrático de Direito, compreendendo como fundamental a existência deste para o avanço do socialismo e a vitória final dos trabalhadores.

Por acreditar que o poder pertence ao povo, e que o dia 7 de setembro dos trabalhadores ainda está por vir, onde todo aquele que sofre terá o direito de desfrutar do fruto de seu trabalho sem a exploração da classe que o domina. Em que o trabalhador poderá, enfim, sair na rua sem o medo da violência. Em que a mulher terá seus direitos assegurados de forma justa. Em que o jovem preto da periferia não terá que morrer nas mãos da violência policial ou entrar para o tráfico para ter uma “vida digna”. Em que os sem-terra terão sua porção de terra, e os sem-teto terão um teto sobre suas cabeças. Este sim é o 7 de setembro que o povo precisa. Essa é a declaração de independência que devemos construir. Independência dos explorados.

Participamos e fizemos parte da realização de todas as manifestações na cidade de Franca, conscientizando trabalhadores, panfletando em bairros e promovendo ações de assistência aos mais necessitados, como a distribuição de máscaras e álcool em gel. Não devemos recuar, pois o resultado do 7 de setembro foi mais uma derrota do espírito político fascista de Jair Messias Bolsonaro, com seus recuos covardes e sua base dividida entre a frustração e o sentimento de traição. É hora de continuar construindo a consciência popular, pois dia 7 foi só mais um dia, e a luta do povo se dá a cada minuto!

*Artigo de João Scarpanti, coordenador de formação e cultura do Coletivo da Cultura, estudante de Direito e militante marxista filiado do Partido dos Trabalhadores

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