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‘Não temos horizonte de quando esta guerra irá terminar e suas consequências’, diz presidente do Sindifranca

Foto: Divulgação/Montar um negócio

O presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca, José Carlos Brigagão do Couto, detalha nesta entrevista concedida via e-mail os esforços que empresas do setor estão desempenhado na atual crise gerada por conta da pandemia do novo coronavírus no mundo.

Ao mesmo tempo que o empresário quer continuar sua produção, pedidos estão sendo cancelados e as fábricas estão paradas (em Franca, desde o dia 20 de março por contra de decreto de situação de emergência) por determinação do Executivo Municipal para tentar conter o avanço da covid-19 na cidade. A retomada do funcionamento está prevista para 8 de abril, quarta-feira.

F3 Notícias – O Sindifranca já tem um panorama de como essa epidemia no Brasil está afetando tanto a produção como a comercialização das fábricas em Franca? Já é possível quantificar em números e porcentagem esses impactos?

José Carlos Brigagão do Couto – Como é de conhecimento de todos, a pandemia atingiu o planeta, portanto, todos os países do mundo, e não temos ainda um horizonte de quando esta guerra irá terminar e suas consequências do ponto de vista de vida, econômico e financeiro. Uma coisa é certa, a pandemia vem mostrar ao mundo que todos são iguais e portanto a solidariedade entre as nações e pessoas é uma das principais armas para vencê-la.

O Brasil está parado, as indústrias não têm como produzir se o varejo esta parado e as pessoas em isolamento em suas residências, portanto, não tem consumo. Com relação quantificar o impacto, não temos ainda esta estatística, mas podemos adiantar que as empresas estão paralisadas, com consequências imediatas no fluxo de caixa comprometendo seriamente as finanças das empresas. Os lojistas estão cancelando pedidos e pedindo prorrogação das duplicatas. A produção foi paralisada sem ter tempo para as empresas se planejarem, em decorrência do alerta e recomendação das autoridades da vigilância sanitária e da ciência/médica, quanto ao risco de contaminação em massa.

F3 Notícias – Há algum ramo da indústria em Franca que pode ser beneficiada de alguma forma pela epidemia? Ou existe a possibilidade de adaptação no tipo de produção, para por exemplo produzir máscara, roupa ou outro item que pode ser demandado por conta da epidemia?

José Carlos Brigagão do Couto – O cenário não aponta nenhuma alternativa que as empresas possam obter qualquer beneficio com esta situação. É uma guerra em que não sabemos onde está o inimigo e não temos as armas necessárias para combatê-lo e vencê-lo. Quanto a produzir outros produtos, como máscaras, roupas e outros destinado ao mercado/varejo, não vejo possibilidade, a não ser para atender a emergência da comunidade, hospitais e a saúde pública local, que para tanto terá que se adaptar ao layout, obviamente obedecendo e instalando na empresa o nosso Plano de Ação de segurança (para seu funcionamento).

F3 Notícias – O que as indústrias têm relatado à entidade, de modo geral, sobre a situação de fechamento ou funcionamento reduzido devido a decreto municipal?

José Carlos Brigagão do Couto – Como disse acima, a produção esta paralisada preventivamente por força da saúde pública, com isolamento das pessoas, evitando a contaminação em massa e como consequência o Decreto Municipal regulamentando comportamentos. A volta das atividades da empresa pelo Decreto Municipal está prevista para o dia 08/04/20, o que irá depender esta semana da decisão do Prefeito e da Vigilância Sanitária.

F3 Notícias – O Sindifranca já tem confirmação de fábrica ou fábricas que encerraram atividades por reflexo da epidemia?

José Carlos Brigagão do Couto – Por força do Decreto Municipal, todas as empresas estão paralisadas. Quanto a quantas vão sobreviver após passado este furacão, é imprevisível. Mas, o Sindifranca esta assessorando as empresas em todos os sentidos, inclusive quanto a orientação a financiamentos para capital de giro disponíveis pelo Governo Federal e Estadual, numa tentativa de sobreviver pós crise.

F3 Notícias – Como está a elaboração do plano para adequar as medidas que autoridades de saúde exigem às fábricas? As empresas têm como se adaptarem?

José Carlos Brigagão do Couto – Nós entregamos ao Governo Municipal no dia 27/03/2020, por sua solicitação, uma PLANO DE AÇÃO, contendo os PROCEDIMENTOS DE MEDIDAS PREVENTIVAS, SUGERIDAS ÀS INDÚSTRIAS CALÇADISTAS a ser implementadas pelas indústrias de forma organizada e planejada, de modo a assegurar a saúde e bem-estar dos trabalhadores, fornecedores, empresários, sem prejuízo à atividade econômica. Este plano foi montado de forma que todas as empresas, de qualquer estrutura, possa adaptarem-se.

F3 Notícias – Medidas governamentais tomadas até agora para auxiliar empresas têm sido suficientes, na visão do Sindifranca? Se não, pode apontar outras medidas que auxiliariam?

José Carlos Brigagão do Couto – Tanto o Governo Federal, como o Estadual, têm disponibilizados recursos financeiros, através de financiamentos em várias modalidades. Porém, as empresas deverão atender as exigências para sua concessão. As exigências são rígidas e muitas não vão poder ter acesso a estes recursos. Os Sindicatos, através da Abicalçados, FIESP, CNI e Governo Estadual, têm encaminhado vários pleitos no atendimento às necessidades e dificuldades das empresas durante e após a crise.

Só a CNI ( Confederação Nacional da Indústria) já apresentou 37 pleitos. Como exemplo, o financiamento de capital de giro, compatível com a capacidade das empresas, prorrogação no pagamento dos impostos federais e estaduais, prorrogação por 90 dias do pagamento da energia, etc. Mas é necessário que as autoridades acelerem a liberação dos recursos, caso contrário não dará tempo de planejarem sua sobrevivência.

F3 Notícias – Podemos classificar o atual cenário como a pior crise para o setor calçadista de Franca? É possível traçar paralelo com outros períodos difíceis, ou este está se mostrando singular?

José Carlos Brigagão do Couto – No Brasil, uma crise se soma a outras. Em 1986, iniciou-se a desindustrialização da industria de transformação. Em 1947, esta indústria representava 11,3% do PIB, no final de 1986 representava 21,6% e no final de 2017 representava 11,1%, ou seja, retroagiu-se 65 anos na participação da indústria no PIB.

Em 2008, tivemos a crise nos EUA, com reflexos na economia brasileira. Depois tivemos a crise dos governos do PT e agora a crise mundial do Coronavírus. Todas estas crises deixaram sequelas na indústria calçadista de Franca, comprometendo sua sobrevivência e expansão. No Brasil, as indústrias não têm como se planejarem a longo prazo, em decorrência do seu principal problema, a INSTABILIDADE POLÍTICA E IDEOLÓGICA. Temos, definitivamente, decidir se seremos uma DEMOCRACIA ou SOCIALISMO ou COMUNISMO. Não dá mais para suportar esta situação.

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